E-Book Overview
A partir de informações históricas, antropológicas, psicanalíticas e literárias, além das referências mais atualizadas da biologia molecular, da neurofisiologia e da medicina, o neurocientista compõe uma narrativa instigante sobre a ciência e a história do sonho. O que é, afinal, o sonho? Para que ele serve? Como extrair sentido de seus tantos símbolos, repletos de detalhes e significados? Neste livro, o renomado neurocientista Sidarta Ribeiro responde a essas e muitas outras questões sobre um dos grandes enigmas da humanidade ao recuperar narrativas literárias e históricas do mundo todo. Ele mostra como os sonhos eram importantes às civilizações antigas, como no Egito e na Grécia, situando-os no cerne da ciência e da política, ou como as culturas ameríndias preservam alguns dos exemplos mais bem documentados de profecias oníricas capazes de guiar povos inteiros. Ao mobilizar os principais debates da psicanálise, da medicina, da biologia molecular e da neurofisiologia, O oráculo da noite apresenta uma história da mente humana pelo fio condutor do sonho.
E-Book Content
Sumário
Capa Folha de rosto Sumário Dedicatória Epígrafe 1. Por que sonhamos? 2. O sonho ancestral 3. Dos deuses vivos à psicanálise 4. Sonhos únicos e típicos 5. Primeiras imagens 6. A evolução do sonhar 7. A bioquímica onírica 8. Loucura é sonho que se sonha só 9. Dormir e lembrar 10. A reverberação de memórias 11. Genes e memes 12. Dormir para criar 13. Sono rem não é sonho 14. Desejos, emoções e pesadelos 15. O oráculo probabilístico 16. Saudade e cultura 17. Sonhar tem futuro?
18. Sonho e destino Epílogo Caderno de imagens Agradecimentos Notas Créditos das imagens Sobre o autor Créditos
Para Vera Por Natália, Ernesto e Sergio Em Nome de Nossos Ancestrais E da 7a Geração Depois de Nós: Sonho, Memória e Destino
Apenas nos pusimos en dos pies Comenzamos a migrar por la sabana Siguiendo la manada de bisontes, Más allá del horizonte, A nuevas tierras, lejanas. Los niños a la espalda y expectantes, Los ojos en alerta, todo oídos, Olfateando aquel desconcertante paisaje nuevo, desconocido Somos una especie en viaje, No tenemos pertenencias, sino equipaje. Vamos con el pólen en el viento, Estamos vivos porque estamos en movimiento. Nunca estamos quietos, somos trashumantes Somos padres, hijos, nietos y bisnietos de inmigrantes. Es más mío lo que sueño que lo que toco. Yo no soy de aquí, pero tú tampoco…
Jorge Drexler, “Movimiento”
Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos — linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel. Cecília Meireles, “Liberdade” Ler é sonhar pela mão de outrem. Fernando Pessoa, Livro do desassossego
1. Por que sonhamos?
Quando tinha cinco anos de idade, o menino passou por um período perturbador em que tinha toda noite o mesmo pesadelo. No sonho ele vivia sem parentes por perto, sozinho numa cidade triste sob um céu chuvoso. Boa parte do sonho transcorria num lamaçal de vielas que circundavam construções lúgubres. A cidade, cercada por arame farpado e iluminada por relâmpagos insistentes, mais parecia um campo de concentração. O menino e as outras crianças da cidade invariavelmente chegavam a uma casa assustadora habitada por bruxas canibais. Uma das crianças — nunca o menino — entrava na construção de três andares e todos ficavam observando suas várias janelas escuras, esperando até que uma delas repentinamente se iluminasse, revelando o perfil da criança e das bruxas. Ouvia-se um grito horripilante, e assim acabava o sonho, que se repetia em detalhes a cada noite. O menino desenvolveu pânico de dormir e comunicou à mãe a decisão de nunca mais adormecer, para evitar o pesadelo. Ficava