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Coleção Mitologia
LIVRO I I
Heróis
José Francisco Botelho
M684 Mitologia: livro 2: herói s. - São Paulo : Ed. Abril, 2011. 128 p. : il. color. ; 19cm. - (Coleção mitologia Superinteressante ; 2)
ISBN 978-85-364-1133·0
1. Heróis - Grécia. 2. Mitologia grega. I. Série
COO 398.20938
índice Odisseu . . . . . . . . . . . . . . ....... 5 Perseu .....
............................. 30
Hércules....
............................. 41
A Guerra de Troi a ......................................................................... 61 Os Argonautas....
................... lU
Capítulo 1
Odisseu
Certa manhã, na Ilha de Feácia, a princesa Nausícaa divertia-se à beira do mar com suas damas de companhia. Era filha do rei Antínoo, governante da ilha. Ela tinha ido lavar roupas com suas servas no rio. Terminada a tarefa, as moças se divertiam jogando bola na espuma das ondas. Às vezes, a princesa lançava um olhar melancólico ao horizonte. Tudo o que enxergava era água e mais água: a Feácia era um país isolado, perdido nos mares que cercam a Grécia. Nausícaa perguntava-se se algum dia conheceria outro lugar além de sua ilha natal. Era improvável. Estava em idade de se casar, e todos os seus pretendentes eram rapazes obtusos e acomodados. Subitamente irritada, Nausícaa chutou a bola para longe. "Chega de brincadeiras", disse às servas. Nausícaa lançou um último olhar ao horizonte azul, à areia branca da praia ... e, nesse momento, todas as moças levaram um grande susto. Um vulto desgrenhado e coberto de lama havia saído do meio dos arbustos e caminhava em direção a elas.
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o homem tinha olhos azuis e havia muito não aparava a barba. Seu único arremedo de vestimenta era um ramo de oliveira, que ele segurava junto à cintura. Apesar da lama que o cobria, Nausícaa pôde ver que tinha mãos grandes e fortes. As damas de companhia debandaram, apavoradas. Mas Nausícaa se manteve onde estava. Era uma princesa da Casa Real da Feácia. Não seria tão fácil fazê-la correr. - Apresente-se, estranho - ela ordenou. Para seu espanto, a assustadora figura não falou com voz rouca ou sinistra - mas com palavras suaves, empostadas e convincentes. - Sou um pobre náufrago, e estou à sua mercê disse o estranho. - Eu me jogaria a seus pés e beijaria seus joelhos agora mesmo, se não estivesse paralisado diante de sua beleza, e se não estivesse tão sujo. Aquelas palavras imediatamente arrefeceram a desconfiança de Nausícaa. O estranho contou-lhe que esteve durante dias ao sabor das ondas, vindo da Ilha de Ogígia, a muitas léguas de distância. Os ventos da tempestade destruíram sua frágil jangada e o lançaram ali , naquela terra para ele desconhecida. A Feácia era um país tão isolado que poucos viajantes haviam aportado em suas praias. Ainda assim , os feácios ti nham o costume de tratar os raros visitantes com a maior cortesia e hospitalidade. Seguindo a tradição,
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Nausícaa ordenou às servas que dessem ao estranho uma das roupas que haviam lavado. Depois, sugeriu sutilmente ao forasteiro que se banhasse no rio. Minutos mais tarde, o náufrago estava limpo e bem vestido. Nausícaa sentiu o coração acelerar-se ao ver o porte de seu hóspede. Era um homem maduro, com o rosto marcado por intempéries e peripécias - um rosto de quem correu o mundo e já viu muitas coisas na vida. Mas os sinais de experiência não diminuíam a beleza do estranh o - pelo contrário, realçavam-na. Mentalmente, Nausícaa comparou aquele belo espécime com os tolos garotos que lhe faziam a corte. De novo, sentiu-se irritada. - Vamos - ela disse, chutando uma pedrinha sobre a areia - , meus pais irão recebê-lo. a hóspede era estranhamente esquivo em relação à própria identidade - mas sua lábia e seu cavalheirismo compensavam o mistério.