A Revolta Da Pizza


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A REVOLTA DA PIZZA Paulo H Pappen Desenho da capa feito pela Laura Sôro Desenho da pizzinha anárquica feito pela Samanta Maia Escrito em 2017 Esse livro pode e deve ser distribuído gratuitamente. SUMÁRIO Capítulo do começo p. 3 Capítulo do protesto p. 7 Capítulo que a gente ocupou a pizzaria Mangiare p. 12 Daqui pra frente é um capítulo só até o fim p. 15 3 Capítulo do começo Daí, quando todo mundo já não tinha mais esperança de que um dia iam finalmente liberar as drogas, resolveram proibir também a pizza. Botaram a maior invenção da humanidade na mesma lista da maconha da cocaína do crack do cigarro e da cola, e de uma hora pra outra qualquer pãozinho com molho e queijo por cima passou a ser altamente suspeito. Quem fosse pego fazendo, comendo ou com pizza no bolso era condenado a prisão perpétua, mais os espancamentos. Da noite pro dia, noventa e sete por cento da população italiana foi pra cadeia. Como não tinha penitenciária suficiente pra toda essa gente, tiveram que alugar celas de cadeia na Holanda, o único país do mundo a não entrar na onda de proibição e, portanto, o único lugar com vagas disponíveis no sistema carcerário. Em Amsterdam, rapidamente se criou um Distrito Amarelo, onde (tendo dinheiro) tu podia comer pizza sem medo de ser feliz. A resistência no Brasil não foi das maiores, mas foi o suficiente pra eu me sentir convocado à luta. Pus a mão na massa logo que saiu o decreto e chamei uns amigos pra comer pizza lá em casa. Cada um levou um pouco de queijo e tomate, e levaram também a notícia de que, nos supermercados, parecia o apocalipse: todo mundo enchendo os carrinhos de coisas pra colocar na pizza. Porque, acredite se conseguir, todo mundo achava que ia poder fazer pizza pelo menos na própria casa, escondido. Mas já naquela primeira noite a polícia levou uma caralhada de gente pra cadeia, invadindo residências onde o cheiro de manjericão tava muito forte. Lá em casa não aconteceu nada de horrível, pelo contrário: a gente tava animado. Quem tava lá: o Augustavo, a Flamínea e a Lasanha. 4 Parece nome falso né, mas não é. Acontece que eu sempre escolhi meus amigos pelo nome deles. – Como tu te chama? – João. – Desculpa então não posso ser teu amigo. A Flamínea até que tinha esse nome meio normal, mas alguém precisava ser normal nesse mundo né. Naquela noite a gente até cogitou a ideia de mudar de nome. Tipo guerrilheiro mesmo, codinomes simbólicos pra reforçar a resistência e dificultar a vida dos ome. Mas é muito difícil escolher um nome, não sei se tu já fez isso. Soa sempre meio ridículo: o Augustavo, por exemplo, pensou em se chamar Alho e óleo. Só que ele é paraleiro (paraguaio de pai, brasileiro de mãe) e não consegue falar o ó. Daí ele diz: aioioio, alioiolio. Algo assim. Não funciona: imagina tu tentando falar sério os ome chegando e o cara dizendo no walkie talkie “aqui alioiolio alêrta vermelho cámbio”. Tu cai na risada e os ome te fodem por tu tá feliz. A Flamínea queria ser chamada de Foccacia, porque ela fazia umas foccacias realmente boas. Mas falando sério: existe nome melhor pruma guerrilheira do que Flamínea? Rosa Luxemburgo, Espertirina Martins, Olga Benario e Flamínea. Desculpa não sei o sobrenome dela. A Lasanha já tinha nome de comida e era muito difícil pensar nela com outro sabor. Digamos Napoletana. Não combina. Napoletana tem que ter no mínimo os cabelos pretos. Se fosse uma insurreição contra a proibição da massa, quem sabe, daí a gente podia pensar em chamar ela de Arrabiata, acho que cairia bem. E a Lasanha eu secretamente já chamava de Capricciosa desde muito antes do golpe. Mas ela foi a primeira a dizer: – Mudar nome é um detalhe, eu não tô pra brincadeira. Quem tiver comigo dale! Quem não tá não me pentelha. 5 Ficou então decidido que nada ficaria decid
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