E-Book Overview
Começou com um docinho depois do almoço. Depois, era batata frita a semana toda. Essa é a história de um cérebro viciado e prostituído: ele sabe que salada é mais digna para a saúde, mas gosta mesmo é de açúcar, sal, gordura, farinha refinada - substâncias que dão tanto prazer quanto sexo, com um poder viciante comparável ao de drogas como a cocaína. A indústria da comida se aproveita dessa nossa fraqueza neurológica para tornar seus produtos cada vez mais irresistíveis, com doses cavalares desses aditivos. E pagamos por isso com a nossa saúde. Aqui você vai entender como realmente funciona essa indústria. E, para não dizer que não falamos de couve-flores, este livro também traz descobertas fresquinhas da ciência que podem revolucionar sua dieta. Bom apetite! Ou não.
E-Book Content
AGRADECIMENTOS À minha família, que me ensinou a gostar de comida de verdade – ao meu pai, que deve estar fazendo um brinde em algum lugar do céu. A Alexandre Versignassi, Fabrício Miranda, Denis Russo, Paula Bustamante, Alexandre Carvalho dos Santos e Cris Pereira, da SUPER, que tornaram este livro possível. Aos pesquisadores, cientistas, neurologistas, engenheiros alimentares, agrônomos, biólogos, médicos e especialistas da indústria alimentícia entrevistados, especialmente a Robson Henriques e Stephan Guyenet. Aos agricultores sem diploma e cheios de sabedoria que me deram verdadeiras aulas. À Fazenda São José, Família Orgânica, Korin e outras empresas e famílias que me receberam durante as minhas pesquisas. A você, que comprou este livro.
Para a minha família
Atenção: as informações contidas neste livro não substituem recomendações médicas.
PREFÁCIO
FARINHA DE TRIGO, AÇÚCAR E COCAÍNA Por Denis Russo Burgierman*
Se um dia alguém resolver erigir um monumento em praça pública às boas intenções frustradas do pensamento científico, podia ser uma grandiosa estátua de um prato cheio de pó branco. Assim homenagearíamos de uma só vez três enganos cientificistas: a farinha de trigo refinada, o açúcar branco e a cocaína. Três pós acéticos e quase idênticos, três frutos do pensamento que dominou o último século e meio: o reducionismo científico. Três matadores de gente. Não é por acaso que os três são tão parecidos. Todos eles são o resultado de um processo de “refino” de uma planta – trigo, cana e coca. Refino! Soa quase como ironia usar essa palavra chique para definir um processo que, em termos mais precisos, deveria chamar-se “linchamento vegetal”, ou algo assim. Basicamente se submete a planta a todos os tipos de maus-tratos imagináveis: esmagamento entre dois cilindros de aço, fogo, cortes de navalha, ataques com ácido. Até que se tenha destruído ou separado toda a planta menos a sua “essência”. No caso do trigo e da cana, o carboidrato puro, pura energia. No caso da coca, algo bem diferente, mas que parece igual. Não a energia que move as coisas do carboidrato, mas a sensação de energia ilimitada, injetada diretamente nas células do cérebro. Começou-se a refinar trigo, cana e coca mais ou menos na mesma época, na segunda metade do século 19, com mais intensidade por volta de 1870. A tal “cultura ocidental” adorou a novidade. Os cientistas ficaram em êxtase, porque acreditavam que o modo de compreender o Universo é dividi-lo em pequenos pedacinhos e estudar um pedacinho de cada vez (esse é o tal reducionismo científico). Nada melhor para eles, então, do que estudar apenas o que importa nas plantas, e não aquele lixo inútil – fibras, minerais, vitaminas e outras sujeiras. Os capitalistas industriais também curtiram a ideia de montão. Um pó refinado é superlucrativo, muito fácil de produzir em quantidades imensas, praticamente não estraga e ainda pode ser transportado a longuíssimas distâncias. A indústria de junk food floresceu e sua grana financiou as pesquisas dos cientistas, que, animadíssimos, queriam mais.