O Cadete E O Capitão: A Vida De Jair Bolsonaro No Quartel

E-Book Overview

Uma investigação sobre um momento controverso na trajetória de Jair Bolsonaro: o abandono da carreira militar e o ingresso na vida política. Jair Bolsonaro tornou-se uma figura pública em 1986, quando assinou na revista Veja um artigo em que reclamava do baixo soldo pago aos militares. Um ano depois, nas páginas da mesma revista, reapareceu numa reportagem que revelava um plano de estourar bombas em locais estratégicos do Rio de Janeiro. A revista publicou um desenho que detalhava o plano. O croqui, supostamente de autoria do capitão, comprovaria a conspiração em curso no Exército. Instado a prestar contas, Bolsonaro foi considerado culpado no primeiro julgamento, e mais tarde inocentado pelo Superior Tribunal Militar (stm). Após a decisão da corte, deixou a farda, passou à reserva e ingressou na política. Esta é a reportagem mais completa já escrita sobre esse período pouco conhecido. O autor examinou a documentação do processo (reproduzida no livro) e escutou as mais de cinco horas de áudio da sessão secreta ― ambos disponíveis no stm. Também entrevistou personagens que atuaram no caso, entre jornalistas de Veja e militares colegas de Bolsonaro. Além de reunir indícios suficientes para apontar que a autoria do croqui, como sustentou Veja até o fim, era mesmo do capitão, Maklouf reconstitui um episódio decisivo não apenas para a trajetória do presidente eleito em 2018, mas também para a redemocratização e o jornalismo no Brasil. 88 páginas com imagens e documentos

E-Book Content

Luiz Maklouf Carvalho O cadete e o capitão A vida de Jair Bolsonaro no quartel Introdução 1. O pequeno mateiro e o capitão Lamarca: Uma história mal contada 2. O cadete 531, ou “Cavalão” 3. O salvamento do soldado Celso 4. Melancias na fronteira 5. “Demonstrações de excessiva ambição” 6. Acidente com paraquedas 7. Artigo em Veja e prisão disciplinar 8. Operação Beco sem Saída 9. Sindicância no Exército 10. O Conselho colhe os primeiros depoimentos 11. Mais perícias 12. Entra em cena o Superior Tribunal Militar 13. O Ministério Público Militar é impedido de falar 14. Fala o relator 15. Fala a advogada de Jair Bolsonaro 16. In dubio pro reo 17. Revisor traça “perfil psicológico” 18. Os ministros votam: 9 a 4 Referências bibliográficas Notas Sobre o autor Créditos Para Elza Para que uma coisa seja interessante, basta olhá-la durante muito tempo. Gustave Flaubert[1] Introdução O capitão do Exército Jair Messias Bolsonaro, presidente da República desde 1o de janeiro de 2019, foi julgado pelo Superior Tribunal Militar (STM) em 16 de junho de 1988 — lá se vão mais de trinta anos. Cinco meses antes, em janeiro, um conselho de justificação do Exército o considerara culpado, por 3 a 0, por ter tido “conduta irregular e praticado atos que afetam a honra pessoal, o pundonor militar[2] e o decoro da classe”. O STM o absolveu, por 9 a 4. Este livro, ao contar a vida de Jair Bolsonaro em seus quinze anos de quartel, questiona esse resultado. Tudo começou em setembro de 1986, quando o capitão artilheiro e paraquedista da ativa publicou na revista Veja o artigo “O salário está baixo”, uma crítica contundente à política salarial do governo José Sarney, o primeiro depois da ditadura militar. Por quebra de disciplina e hierarquia, considerada uma transgressão grave pelo regulamento do Exército, Bolsonaro foi punido com quinze dias de prisão disciplinar. O caso teve grande repercussão, deu ao capitão seus primeiros quinze minutos de fama, mas não foi além disso. Pouco mais de um ano depois, em outubro de 1987, a edição 999 de Veja acusou os capitães Bolsonaro e “Xerife” — que depois se descobriu ser Fábio Passos[3] — de serem os autores de um plano batizado de Beco sem Saída. O objetivo, segundo Veja, “era explodir bombas em várias unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende