O Paraíso Reconquistado


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1 LIVRO PRIMEIRO Eu, que outrora cantei o feliz jardim perdido pela desobediência de um homem, agora canto a reconquista desse paraíso por toda a humanidade, obtida pela firme obediência de um homem contra toda a tentação; o tentador frustrado em todas as suas manobras, derrotado e repelido; e o éden erguido na vastidão. Tu, Espírito, que guiaste o glorioso Eremita através do deserto em sua batalha vitoriosa contra o inimigo espiritual e o trouxeste desde então como prova indubitável do Filho de Deus, guia, como estás habituado, meu inspirado canto, ora mudo, conduzindo-o às alturas ou às profundezas, com prósperas asas, para dizer dos feitos heróicos, apesar de ignotos, e esquecidos por muito mais que uma geração: honroso é que não permaneçam mais esquecidos. Agora o grande Arauto, de voz mais terrível que o som da trombeta, clama o arrependimento e a proximidade do reino dos céus para todos os batizados. Para este grande batismo aglomeraram-se com pavor as regiões vizinhas, e com elas veio de Nazaré o filho de José que estava destinado ao batismo no Jordão – e que até então permanecera oculto, anônimo e desconhecido. Mas o Batista logo o descobriu, alertado por um aviso divino, testemunhou o seu entendimento assim como o seu valor, e teria renunciado ao ministério celestial em seu favor. Nem era antigo o seu testemunho não confirmado: abriram-se os céus e o espírito em uma figura de pomba desceu, enquanto a voz do pai celestial proclamava-o seu amado filho. A tudo ouvia o Adversário, ainda solto no mundo. Aquela assembléia conhecida não seria a última, e a voz divina semelhante ao estrondo do trovão, a louvar o homem, de quem tão alto testemunho foi dado. Por um momento refletiu com espanto; então, carregado de inveja e ódio, voa para o seu lugar, sem descanso, para, no interior de grossas nuvens densamente envolvidas de escuridão, reunir em conselho todos os seus pares num sombrio consistório. E então, no meio deles, com semblante horrorizado e triste, ele assim falou: 2 “Ó antigos poderes do céu e deste vasto mundo (por mais sinceramente que eu fale dos céus, outrora nosso lar, sou forçado a recordar do inferno, nossa odiosa morada), vós bem sabeis há quantas gerações nos apoderamos deste universo e o governamos da maneira que melhor nos agrada, desde que Adão e sua agradável consorte Eva perderam o paraíso, ludibriados por mim, e desde então, atemorizado, me preocupo com o fatal ferimento a ser infligido pela semente de Eva à minha cabeça. Há muito que os decretos celestiais se prolongam. Por mais que se atrasem os decretos celestiais, o mais longo tempo para Ele é pouco; e agora, tão cedo para nós, o temido momento é chegado onde nós devemos aguardar o golpe daquela ameaça há tanto proferida (ao menos se nós pudéssemos manter nossa liberdade, permanecendo neste belo império sem que nosso poder seja diminuído) para tais males, novidades trago: a semente da mulher, destinada a isso, já é nascida. Seu nascimento não nos dá poucos motivos para nosso justo medo; mas da sua mais tenra idade até o desabrochar de sua juventude, ele vem exibindo toda a sua virtude, graça e sabedoria, capazes de alcançar as mais elevadas e maiores coisas e isso multiplica meu temor. Antes dele um grande profeta, para proclamar sua chegada, foi enviado como arauto, que a todos convida e na consagrada corrente pretende lavar seus pecados, e torná-los purificados para recebê-lo puro, e principalmente consagrá-lo como o seu rei. Todos vieram, e ele próprio entre eles foi batizado – não para ser mais puro, mas para receber o testemunho do céu de quem ele é e desde então as nações não mais possam duvidar. Eu vi o profeta fazer-lhe reverência; sobre ele, que se erguia das águas, o céu acima das nuvens abriu suas portas de cristal; então em sua cabeça uma perfeita pomba desceu (o que quer que isso signifique); e, vinda de algum lugar do céu, uma voz soberana eu ouvi, ‘este
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